quarta-feira, 17 de julho de 2024

Da vida

Quando o meu pai faleceu, tinha eu 22 anos, senti uma dor tão, tão forte, algo que não consigo descrever. Talvez quem tenha passado por dor igual compreenda.

Lembro-me de estar nas cerimónias fúnebres e uma tia me dizer "não é agora que dói, é com o passar dos anos", olhei para ela, mas nem lhe respondi.

Como não ser "agora" que dói, se eu sentia o corpo todo doer de dor, fraqueza, angústia, injustiça, impotência... Era algo dilacerante. O tanto que doeu. Como é que seria possível doer ainda mais com o passar dos anos? Que absurdo. Desenhei eu na minha cabeça.


Ela tinha perdido o pai, meu avô paterno, também muito menina. Sabia o que dizia.


Passaram 10 anos. Dói, mas dói diferente. São dores de ele não ver o que conquistamos, de uma falta de presença, da voz, é uma dor inconfundível de saudade. 


Hoje enquanto vinha na viagem para o trabalho ouvia o locutor da rádio a dizer, "são nove e treze, não vamos voltar a viver este momento, a mesma hora, neste dia".


O meu pai faleceu eu tinha 22 anos. O meu filho nasceu em 2022, às 22:22h.

Não vamos voltar a viver este momento.

 

5 comentários:

  1. Lamento... infelizmente também perdi o meu pai aos 13 depois de luta com o cancro.. e foi a melhor fase entre nós entre tratamento e recaidas... e penso tanto nisso no mque ele deixou de me conhecer ! de me ver casar, ser MÃE, de conhecer a Deusa da neta... tantos sonhos...
    Já adulta e Mae perdi um sobrinho criança ... já passaram 12 anos e a angustia do momento vive em mim.... uma saudade sem explicação... no que ficou por viver... no que ficou por realizar.. a injustiça de tudo...
    e eu mudei tanto.. e tenho a certeza que os Momentos realmente não se repetem... por isso Vivo a vida de uma forma mais leve.. cada vez mais vivo apenas o momentos por que o amanha é tão relativo....

    desculpa o desabafo .. .
    um grande beijinho :-)

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    1. Obrigada pela sua partilha.

      São em momentos como estes em que paramos e pensamos além do dia-a-dia e do corre-corre que vemos o que importa e faz sentido.

      Lamento as suas perdas.
      Dói muito, é inegável.

      Um beijinho

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  2. Lamento muito. Perdi o meu pai há 3 anos, de repente, nada o fazia esperar e é uma dor imensa. Não sei como vão ser os próximos anos, mas a sensação de perda, de vazio, e de uma dureza que ficou em mim, não saiem.

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    1. Não se descreve em palavras o que se sente, é bem verdade.
      Também lamento a sua perda, a vida em muitos sentidos consegue ser bem cruel.

      Um abraço

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  3. Lamento muito.

    Imagino a dor, não querendo imaginar. Penso imensas vezes na minha mãe e quando chegar a altura dela.
    Lá está, nem quero pensar nisso.

    Mas percebo o que te disseram. Claro que dói na altura. Mas sim, com o passar do tempo, e o meu avô já fez 1 ano, dói de maneira diferente.

    Beijocas e força

    Cláudia - eutambemtenhoumblog

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