Quando o meu pai faleceu, tinha eu 22 anos, senti uma dor tão, tão forte, algo que não consigo descrever. Talvez quem tenha passado por dor igual compreenda.
Lembro-me de estar nas cerimónias fúnebres e uma tia me dizer "não é agora que dói, é com o passar dos anos", olhei para ela, mas nem lhe respondi.
Como não ser "agora" que dói, se eu sentia o corpo todo doer de dor, fraqueza, angústia, injustiça, impotência... Era algo dilacerante. O tanto que doeu. Como é que seria possível doer ainda mais com o passar dos anos? Que absurdo. Desenhei eu na minha cabeça.
Ela tinha perdido o pai, meu avô paterno, também muito menina. Sabia o que dizia.
Passaram 10 anos. Dói, mas dói diferente. São dores de ele não ver o que conquistamos, de uma falta de presença, da voz, é uma dor inconfundível de saudade.
Hoje enquanto vinha na viagem para o trabalho ouvia o locutor da rádio a dizer, "são nove e treze, não vamos voltar a viver este momento, a mesma hora, neste dia".
O meu pai faleceu eu tinha 22 anos. O meu filho nasceu em 2022, às 22:22h.
Não vamos voltar a viver este momento.