terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Piloto Português, o desporto e o caracter. Paulo Gonçalves

Os apaixonados pelo rali, sabem.
Os portugueses, sabem.

Infelizmente, um pouco por todo o mundo sabem. 

Paulo Gonçalves morreu este domingo. Escrevo, infelizmente, pela sua morte, não por se saber em quase todos os cantos do mundo, porque ser reconhecido ele mereceu, e muito na sua passagem pelo mundo desportivo.

Eu sei o que é o desporto. Atleta de competição durante 10 anos, costelas rachadas, dores intermináveis e um joelho com problemas, talvez, para o resto da vida. Sabemos que quando pisamos o palco estamos de pé, mas à saída o mundo por ter desabado no entretanto.

Para quem não sabe, o Paulo no domingo já não corria para ganhar. Na 3ª etapa, 4 etapas antes da sua queda, teve o motor partido e teve de esperar um de substituição. Todos, eu incluída, pensei que ele iria desistir da prova de 2020, mas não, esperou e mudou ele próprio o motor da sua máquina e correu. Porque piloto corre e ele corria lindamente.

(e se tivesse desistido?) Choro.

Acredito que muitos portugueses só ouvissem falar nele agora, e lamento, desportista como poucos, e de um caracter que só os vencedores têm. Aqueles que sabem que já não há pódio, mas à uma meta para traçar. E desta vez ele próprio correu contra esse mesmo perigo, não havia nada a ganhar, a não ser a paz consigo próprio de não se mostrar a si mesmo desistente.

Parabéns Paulo. Pela coragem. 

É uma perda incalculável para o rali nacional. E uma perda inconsolável para a sua família. 



Onde quer que tu estejas (porque, por favor, deixem-me acreditar que depois da morte se estará em algum lugar), que o restante do teu trajecto seja leve, que a dor de teres deixado os teus "pequenos" se minimize sobre a informação e a admiração que deixaste na vida de tantos admiradores e corredores.

Talvez não se volte a ter corredor como tu, talvez não se volte a ver os mesmos ideais em pista. É raro a coragem de quem cumpre por amor desafios tão pesados como as pistas que cruzaste. Muito menos, a persistência e dedicação em prol de um trajecto apenas cumprido, sem vitória, só vivido. Ironia, só querias viver/terminar o trajecto e ficaste nele para sempre.

Gostava de escrever na medida daquilo que merecias, mas não consigo sem quase sufocar.

Se o coração falhou antes ou depois da queda, que Deus te tenha dado a oportunidade de saberes que não foste ingloriamente. Partiste com um dos maiores ensinamentos que se pode transmitir na vida e no desporto, o amor.

1 comentário:

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