Ontem à noite fiquei por mais de uma hora a brincar com o meu bebé até ele ir dormir. Desarrumamos e arrumamos o quarto todo umas três vezes, cheguei a dada altura sem conseguir ver bem o chão, com tanta peça e brinquedo esparralhado. Dei por mim em certo momento a chorar. Quando me fui deitar agradeci a Deus. Tudo, foi muitas vezes injusto comigo e com o meu caminho, mas agradeci, tudo. O meu filho é a melhor pessoa que tenho, ele preenche tudo quanto mais ninguém consegue dar.
Tenho histórias em mim que talvez nunca vá conseguir apagar, quase certa disso, e não consigo perceber porque por vezes temos de passar o que passamos.
O inferno é mesmo aqui não é? Não é lá em cima, nem lá em baixo, pois não?
Nunca me faltou nada em casa. Graças a Deus. Cresci saudável, fora questões de pele que desenvolvi já depois da adolescência.
Brinquei muito sozinha, sempre sozinha, e era elogiada por isso, até que mais tarde entendi que tinha um trauma com isso. Estar sozinha.
Cresci numa família grande. Tive a sorte que tive, mas também tive dias de tomar banho de água fria por semanas porque o gás tinha acabado e bebia um copo de água antes das aulas por não ter comer e não ser altura de pedir mais aos meus pais. Isto enquanto fazia o ensino superior. Sim, eu sou da geração dos 30, mas engane-se quem acha que a dificuldade era só nos grandes e afastados antigamente's.
Sempre fui uma pessoa que pensou e se preocupou com os outros de um modo que talvez seja antiquado já, porque não vejo mais ninguém ser assim, aos dias de hoje. E isso sempre me permitiu a mim mesma, sofrer sozinha. O brincar sozinha, o não comer a ou b, o não pedir dinheiro, o passar mal, o ter presenciado e passado determinadas coisas... Às vezes penso que Deus me esqueceu ali, por algum momento do meu caminho. E me deixou sofrer mais do que aquilo que eu merecia.
Mas é quando olho para o meu filho que eu vejo que Ele existe.
Acho que foi por isso que eu chorei ontem. E depois agradeci.
Tenho tantas falhas. Mas sei, eu sei que só preciso de uma abraço bem dado. E sabem quantos o meu filho me deu ontem enquanto brincávamos? 5.
Foram os seus, cinco, primeiros abraços.