Porquê poupar o máximo?

Eu ontem tive um comentário, ao qual dei reposta, exatamente como gosto de dar a toda  agente que me escreve, seja positivo ou não, que me deixou a pensar bastante. Tanto que mesmo depois de lhe responder ainda fiquei a pensar naquilo.

E hoje venho detalhar, a pergunta e a resposta, porque acredito que quem me lê, passe e depois não volte atrás para ver se há comentários ou não.

A pergunta era: Houve algum motivo para te teres proposto a poupar tanto este ano?

A minha reflexão:

Eu olho para esta pergunta como algo que tem dois lados, exatamente como lhe respondi ontem.

Primeiro eu não tinha um real motivo, só comecei a juntar os máximos dos máximos e a ver que conseguia juntar e ter bons valores em poupança, muito bons mesmo, alias logo em janeiro e fevereiro fiz mil euros de poupanças, comecei a ver que "funcionava" ser mais regrada e estava a gostar de ver os valores a crescer. Então, num primeiro momento não foi obvio, não havia ali uma razão.

Em segundo, comecei a pensar e refletir nestes valores, a olhar para trás, a ver e a fazer contas ao que já podia ter e não tenho. Também a valorizar o que já consegui sozinha ao longo destes 11 anos de trabalho. E comecei a projetar-me no futuro, nas minhas obrigações, nos patamares que eu e o namorado queremos alcançar, e fez-me todo o sentido saber que o dinheiro fará falta e será decisivo em algumas das nossas escolhas, tê-lo ou não o ter. Então aqui eu encontrei a razão. O futuro. E a partir daí foi mais fácil, ou pelo menos tem sido até agora, ir deixando para trás o que não é tão necessário e urgente no meu dia-a-dia e que me fazia gastar/consumir. 

Depois, há aqui uma terceira coisa a pensar... e que me tem feito pensar muito, ainda mais com esta fase de incêndios e de tantas famílias a perder o que conquistaram por anos e anos... Eu estou com 4266,21€ poupados este ano, e eu sei que é mesmo muito dinheiro para 9 meses (e ainda sabendo que agosto nem contou), eu sei que está acima do que muita gente consegue, e sinto-me orgulhosa por ter conseguido... Mas depois penso:

Somos um povo que SEMPRE FOI TRABALHADOR ATÉ AOS OSSOS, esforçados, dedicados. Que se levanta cedo, trabalha, luta! E depois é "anormal" se conseguir ter mais de 5 mil euros ao fim de um ano de poupanças? É preciso cortar na própria vida para fazer um pé de meia? É algo que eu não consigo perceber... Ganhamos mal, mal mesmo. Seja qual for o sector, mas principalmente quem anda na rua, ao sol e chuva. A dignidade do trabalho deveria compensar mais, mais o dia-a-dia e mais o nosso futuro.

E quem está a perder tudo agora? Sofro por eles. Que Deus vos ajude. Em 2017 eu e os meus dois irmãos vimos a nossa aldeia ser evacuada, resistimos à ordem da GNR para sair, dissemos "é o que os meu pais conseguiram a vida toda, não vamos sair" a resposta foi "vocês não imaginam o que aí vem". Eu chorei, e muito. Idosos e crianças saiu tudo... a noite e o barulho das pedras a "explodir" com o fogo. Doí ainda hoje. O meu irmão mais velho arranjou ramos de árvores, mandou-me regar a casa toda incessantemente para a "arrefecer". Já me doíam os braços de projetar água. Quis Deus que ao chegar às nossas estremas o fogo se extinguisse. Deus, os bombeiros que chegaram 1 dia depois, chegados das suas terras no Alentejo e em Espanha. Eram os que havia. E os meus irmãos, que corriam as nossas estradas, deixaram abrir novas cortando os nossos terrenos e ajudavam no reconhecimento dos caminhos. Nada nos ardeu. 

Mas aquela dor. A quem conquista. A quem luta tanto para ter alguma coisa e se vê nestes prantos.... É injusto. Que haja recompensa pesada e em glória para os dois lados: Para quem perdeu nestes dias o seu conforto e as suas conquistas, e para quem faz o mal as pagar.

Porque custa, custa mesmo muito ter-se alguma coisa.