segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Histórias cá de casa

Quando estava grávida do meu filho, numa visita a Fátima comprei um São José, foi a figura que me tocou de uma forma diferente durante aquele passeio e durante a gravidez.

Partiu a cabeça quando ele era pequenino e o tombou sem querer. E tinha-o guardado para depois restaurar e foi até à uns dias atrás.

Fui buscá-lo, colei e como ficou tão perfeito que nem se nota, fui pô-lo no quarto.

Como fazemos o coração todas as noites para o Jesus e para o avó, a olhar para o tecto como se fosse o céu, disse-lhe para ele fazer o coração a olhar para o Jesus e apontei para a figura de São José e expliquei que era Jesus no colo do seu papá (está em cima de uma estante).

Ele prontamente:

"Mãe, se o Jesus está ali o avó está sozinho lá no céu. Não pode ser, ele está lá à tanto tempo"

Fiquei de coração partido. 

Ele está.

Está lá à demasiado tempo.

Tanto que a cabecinha dele ainda não entenderia se eu explicasse... demasiado tempo.


Mas beijei-o e disse que sim, que o avó tinha lá na mesma Jesus porque ele está sempre onde nós nos lembrarmos dele e o Jesus do quarto era só para ele ver e saber que ele também está ali.


Há alturas do ano mais difíceis, ele está quase a fazer 3 anos, e o meu pai não viu nada... é das dores mais profundas que tenho.


E ele me ter respondido aquilo naquela noite, doeu, não teve culpa coitadinho, mas é como se entendesse que ele não vem, que ele não existe, que o céu é longe e que guarda pessoas que deviam estar aqui. E não devia...


Tenho muitas saudades tua Pai


4 comentários:

  1. Bom dia,
    Realmente é das coisas que mais me custa. A minha mãe como faleceu quando eu ainda era uma criança nunca conheceu nenhum dos netos. Mas o meu pai conheceu os meus dois mais velhos, apesar de ter falecido antes do meu menino ter completado os dois anos. Sei que não vai ter memórias do avô. Mas tem fotos com ele, pelo menos, e sempre lhe poderei mostrar. Mas agora estou grávida do terceiro e dou por mim a pensar que este será diferente, nunca poderá experimentar o colo do avô, e dói, dói esta diferença, e dói esta "injustiça" entre irmãos. Infelizmente é daquelas coisas sobre as quais nada podemos fazer, apenas resignar-nos. É nestes momentos que tenho pena de não ser crente, acho que ajudaria a sentir a proximidade, mesmo que a distância da terra ao céu seja infinita.

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    1. No dia em que terminei a 2.ª licenciatura que tenho liguei para o n.º do meu pai... inconscientemente, porque quando acabei a 1.ª foi a primeira pessoa a quem liguei... viu muito pouco de mim... do que tenho hoje... às vezes penso (no ser cristã) se ele me vê e se se orgulha, outras vezes tenho a certeza que não e que perdi toda a oportunidade de lhe mostrar o que construí...
      Acreditar não nos faz melhores, ou não nos torna as dores mais leves, faz-nos duvidar de muita coisa na mesma...

      São coisas que mexem conosco não é? olhar para eles e saber quem nunca terão histórias com eles...

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    2. Sim, também muitas vezes me pergunto se a minha mãe gostaria da pessoa em que me tornei. E custa-me tanto mas tanto ter tão poucas recordações dela. Não me lembro da voz por exemplo.
      Há uns tempos a minha filha também me perguntou se eu achava a avó F. Iria ser amiga dela, se não tivesse morrido. Se iria gostar dela. Claro que iria, sem dúvida nenhuma. Mas as crianças têm destas coisas. E depois saber que os meus filhos têm dois avós paternos vivos que pura e simplesmente não conhecem (a minha filha ainda tem recordações do avô paterno, o meu filho tem três anos e se o viu meia dúzia de vezes foi muito), ainda me custa mais mas é o que é. Não controlamos os outros. Por acaso sempre pensei que para quem era crente havia um conforto diferente em saber que os entes queridos ainda existem, mas noutra dimensão. Principalmente para aqueles que acreditam que um dia se vão reencontrar. Se calhar estou redondamente enganada, pode ser.

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  2. o luto :-)

    nem sempre tão fácil de explicar...então a crianças...
    Por aqui tenho infelizmente tb parte dessa historia perdi o Pai ainda adolescente...
    E em família tb passamos um perda dolorosa demais de explicar... de crianças... e apesar dos anos que já passaram não é um tema tranquilo ... que se consiga explicar de uma forma "normal" e que a explicação nos ajude a acalmar tantas vezes o coração!
    um grande beijinho

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Histórias cá de casa

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